Rosa Maria Mano é poeta nascida em São Paulo (SP), onde viveu até os 41 anos, com breve intervalo de cinco anos de residência na cidade do Rio de Janeiro (RJ), vivendo hoje à beira-mar, na cidade de Rio das Ostras.
Alguns poemas da autora
Biomedo
Quando a lua cobriu com seu decalque
as areias, o calçadão, os barcos,
eu descobri um descomunal medo em dégradé,
no meio das serpentes que habitam
o cônico do céu, a gênese das causas.
a espiral que verte das mamas da mãe,
bárbara e sublime, espelhava-me,
em arabescos e caldas
colorizados de tintas verde-frescas,
saborizados com as pimentas luminosas
de estrelas gêmeas.
do sal aos limites do imaginado,
o medo do ocaso mostrava-se
no grão de cada coração.
o temor das mortalhas de renda de vênus,
após o manto de marte.
subitamente desmaiadas de sol,
pedras e lua em uníssono, no concerto
das clarividências,
seguem em quarto minguante.
Publicado em Petricor, pela Donizela.
O húmus
Calquei os pés sobre as sangrias
e eram de eterno lodo naufragado.
Eram de artérias moles, estreitas,
adocicadas por rios e sereias,
bocas de salubre visgo,
místicas florestas libertárias,
mamas salivando paz.
Entre a loucura e a prece, o dorso da palavra
cavalgada por ventos e águas claras
contradiz a contaminação de lamparinas inorgânicas,
o medo de quem esquece, a velhice de quem desiste.
Despenco dos joelhos, úmida de silêncios.
Publicado em O lume e a fábula, pela Marianas Edições.
Carnal, marfim, medula
Esta que é pouca, transitória e resumida,
já enegrecida por tanta fuligem,
rasga-mortalha, rapina,
pousada sobre o veneno dos telhados.
Esta que busca curso dentro da nudez
e abraça a antiga deusa de mãos frescas.
Esta que expande ouro sobre negro,
incompreensível e pouco iluminada,
rosa dormida, turva sob a pequena lua
que alumbra a ossatura fugitiva,
os pés lambidos por dura água,
na face escura do vento quebra o relógio,
alimenta a fúria da saliva e dos saltos.
Responde aos labirintos com ecos
de uma voz incandescente de amor humano,
carnal, marfim, medula e açúcar,
alongada língua acarinhando lírios.
Publicado em Lábios-mariposa, pela Singularidade Editora.
Livros
Xamã (Litográfica Editora, 1984)
Vento na saia (2015)
Manuscritos de areia (Marianas Edições/Bolsa Nacional do Livro, 2017)
Lábios-mariposa (Singularidade Editora, 2017)
Manuscritos de água (Táxi Blue Produções, 2018)
O lume e a fábula (Marianas Edições, 2021)
O livro dos fractais (Donizela 2022)
Petricor (Donizela, 2023)
Coautoria
Fruto mulher - poesia (Semente, 1983)
Três Marias e um cometa - infantojuvenil (Companhia Editora Nacional, 1986)
Coletânea Prêmio SESC de Poesia (SESC RJ, 2000)
Conexão IV: Feira do Poeta (Nogue Editora, 2018)
Coletânea II – Conexões atlânticas Brasil-Portugal (In-Finita Editorial, 2018)
Mulherio das Letras Portugal (In-Finita Editora, Lisboa, 2019)
Marianas (Anadara brasiliana Edições, 2019)
Marianas 10 (Anadara brasiliana Edições/Donizela, 2024)
Idade é fogo (Donizela, 2024)
Saiba mais sobre Rosa Maria Mano
Publicado por: Tânia d'Arc
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