
Da mistura de poemas gestados e paridos pelas mulheres poetas que
conheci: alguns eu li, outros eu ouvi - de todos colhi emoções e alimentei-me.
Um dia embarquei nas palavras
para fugir da casa assombrada
para descobrir minhas próprias asas
para escapar da caixa, social, fútil e banal.
Escrevi viajando no aroma das folhas
no chá de nós misturadas
nas asas das bruxas voadoras
lambuzadas de mel, canela, gozo, sal e fel.
Convivi com mulheres em estado bruto
parindo poemas pelos vãos do patriarcado
feio, venenoso, visceral e ultrapassado.
Palavras escritas, lidas, ouvidas salvaram-me
libertaram minhas crias.
Eu, criatura crua, imersa em memórias dolorosas
costurei os cortes, vomitei as dores e criei poemas.
Versei aplaudindo a ousadia das bruxas
e dancei sobre o altar das santas.
Arrumei meu desalinho, reconstruí meus escombros,
Ressurgi mais viva, estranha e dona de mim.
Se alguém diz assim: aquilo foi seu calvário ou seu fim, afirmo que sim.
Para renascer, é preciso morrer.
A escrita foi e é o meu parto - às vezes, é preciso parir emoções nocivas
para renascer - como o sol - reluzir.
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