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Mulheres em estado bruto um texto de Cida Varela

Foto do escritor: Daniela AmaralDaniela Amaral

Da mistura de poemas gestados e paridos pelas mulheres poetas que

conheci: alguns eu li, outros eu ouvi - de todos colhi emoções e alimentei-me.

 

Um dia embarquei nas palavras

para fugir da casa assombrada

para descobrir minhas próprias asas

para escapar da caixa, social, fútil e banal.

 

Escrevi viajando no aroma das folhas

no chá de nós misturadas

nas asas das bruxas voadoras

lambuzadas de mel, canela, gozo, sal e fel.

 

Convivi com mulheres em estado bruto

parindo poemas pelos vãos do patriarcado

feio, venenoso, visceral e ultrapassado.

 

Palavras escritas, lidas, ouvidas salvaram-me

libertaram minhas crias.

Eu, criatura crua, imersa em memórias dolorosas

costurei os cortes, vomitei as dores e criei poemas.

 

Versei aplaudindo a ousadia das bruxas

e dancei sobre o altar das santas.

Arrumei meu desalinho, reconstruí meus escombros,

Ressurgi mais viva, estranha e dona de mim.

 

Se alguém diz assim: aquilo foi seu calvário ou seu fim, afirmo que sim.

Para renascer, é preciso morrer.

A escrita foi e é o meu parto - às vezes, é preciso parir emoções nocivas

para renascer - como o sol - reluzir.




 

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