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  • Foto do escritorColetivo Marianas

Márcia Pfleger


Márcia Pfleger

Márcia Adriane Pfleger (Márcia Pfleger) é escritora e jornalista de Curitiba. Em 2015, lançou Caneca de café com versos, pela Editora 7Letras. Tem poemas e contos publicados em revistas, jornais e sites de artes e de literatura. Foi um dos destaques citados no "Dossiê Woolfianas – Mulheres que Escrevem nos Séculos XX e XXI", organizado pela UFPR, e em 2021, foi finalista do Prêmio Off Flip (poesia). Integra a coletânea nacional As mulheres poetas na literatura brasileira, pela Arribaçã. Em 2020, lançou Camélias afônicas, pelas Marianas Edições.

 

Alguns textos da autora



A MULHER DO FIM DO MUNDO


ter dentro de si algo

acontecendo como um silêncio

(não é qualquer coisa)


atrás do balcão os seios dela

apontam a rua

qual a sensação de jogar longe os sapatos

a sola nua dos pés rilhar o asfalto?


pela manhã

terá anseios de esgrima

com as agulhas de tricô

ser o Unabomber entupindo a válvula

das panelas de pressão


às vezes dentro de si

algo gigantesco estala...

mas ela sabe que em Ushuaia

as geleiras desmoronam

em acordar as gaivotas que adormecem

embaladas por um braço do oceano.





PICNIC UNDERGROUND


Cortar fora os olhos com um volteio de krav magá.

Nem distar pela janela as mangueiras ensuquecidas no pomar alheio

nem ejacular os olhos pelas pernas da filha do vizinho

(ela usa a cerca elétrica como meias de redinha)

impossível – impossível tocar.

Gula sexo e inveja:

a voracidade do que entra e do que sai pela boca é a mesma.

Eu faria um turn out com um fusca 67

Acrobacias numa árvore de mangas só pra espiar pela janela

Jogaria uma pedra da vesícula com um bilhete enrolado convidando-a para um picnic underground no porão do bar.

Mas aí a tia Dilce (sim, ela mesma, mora comigo, o sobrinho amado) esticaria seu cabo submarino da garganta até meus ouvidos

– esquema de injetar o grito no córtex, you know? –

e 20 helicópteros em conjunção solar derrapariam no espaço

com morteiros apontados pra mim.

Sustente uma ereção com isso, quem?

Agora o relógio mingua perdendo segundos de sangue gota a gota

tac tac tac (num balde esmaltado).

Todos os olhos do mundo em cima de mim e a tia Dilce me arrastando pelo

piercing do nariz.

O mundo – e a tia Dilce

O mundo – e a tia Dilce

O mundo – e a tia Dilce

Afinal quem se importa com uma paixão adolescente pela esfinge que usa meias de redinha para apanhar meus olhos do tamanho de goiabas?

– “O mundo”, a tia disse.

(Capítulos II e III geminados):

Fazia uma manhã quase helvética quando o pequeno urso saiu a passeio. O dia estava lindo para uma selfie e todos querem fingir uma prainha só pra quicar nas redes sociais neonazicolunistas.

(Epílogo): Depois de arrancar discurso até dos capitólios, encho a mochila com os cadernos encouraçados onde escondi as bobagens que…

A vida brincou de mim enquanto eu brincava ser uma poça d'água.

Na casa ao lado, você estará à janela sem nunca saber o nome de todas as constelações que batizei por teus olhos…

Do lado oposto

estou eu

indo embora.





SILÊNCIOS


Fura o travesseiro de penas

e ali

esconde as lamúrias


O esforço inútil de varrer calçadas em

dias de vento

Colar objetos quebrados

com cuspe,

sem dizer palavra


Coisas escorrem dos cantos mal rejuntados

que ensopam chinelos de pano

O teu silêncio é cheio de vazamentos


 

Livros

Camélias afônicas - e-book (Marianas Edições, 2020)

 

Coautoria

Prêmio Off Flip - poesia (Off Flip, 2021)

 

Saiba mais sobre Márcia Pfleger


Publicado por: Tânia d'Arc

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